É necessário deixar claro que esse texto não fará uma análise técnica naipe a naipe de cada bateria. O conceito utilizado para a produção dessa matéria será o de buscar expor a concepção musical, além de relatar de forma geral sobre as paradinhas e difundir musicalidades que por algum aspecto ou outro, causaram certo encantamento. São inúmeras as dificuldades para reunir contingente de ritmistas nas agremiações desse grupo para ensaios, o que justifica o caminho escolhido.
A bateria do Arranco do Engenho de Dentro, dos mestres Cabide e Marley, foi a primeira da noite a se apresentar. Uma afinação de surdo mais grave, característica do ritmo da escola, deu base sonora para três arranjos musicais exibidos pela bateria “Sensação”. Um breque na primeira do samba e uma bossa na segunda se mostraram funcionais. Na segunda também havia uma virada em determinado momento, explorando a nuance melódica da obra. A paradinha de maior destaque é a do refrão do meio, num arranjo musical bem produzido que faz alusão a musicalidade da Mangueira, plenamente atrelado ao enredo da escola.
A bateria da União de Jacarepaguá, de mestre Marquinhos, levou um contingente visivelmente notável, tendo como ponto alto de emoção o grande mestre Hugo ajudando a reger o ritmo, mesmo na cadeira de rodas. O clima familiar da bateria estava estampado nos brincos de todas as ritmistas do chocalho, com os dizeres “Ritmo União”, apelido da bateria da agremiação. A sonoridade do breque no início da segunda cativa, bem como a bossa do refrão principal impressiona pelo bom gosto. Já a paradinha do final da segunda ganha destaque pela concepção criativa de retomar o ritmo pautado pelo desenho rítmico dos agogôs.
A bateria da Em Cima da Hora, de mestre Léo Capoeira, apresentou uma musicalidade com bastante fundamento. A paradinha de alta complexidade musical na primeira do samba só não ganha mais destaque que a bossa do refrão do meio, onde os surdos de terceira remetem a atabaques, fazendo um Alujá para saudar Xangô. O frenesi provocado pelo ousado balanço das terceiras acrescentaram forte impacto na musicalidade da bateria. O mesmo swing envolvendo as terceiras fica evidente na espécie de subida de três, se aproveitando de um arranjo musical mais elaborado.
A bateria da Lins Imperial, de mestre Átila, contribuiu na leveza musical que o samba pedia. O ritmo da bateria da Lins Imperial subiu após uma levada com solo de ritmistas tocando timbal, explorando caminhos musicais alternativos. Se aproveitando do clima de diversão, a bossa no final da segunda e início do refrão principal teve ritmistas abaixados, além de solo dos timbales. Uma subida de três, com arranjo musical elaborado, quase que como uma paradinha se mostrou funcional.
A bateria da Unidos da Ponte, de mestre Branco Ribeiro, exibiu uma musicalidade essencialmente inserida no que pedia o enredo de vertente africana. Uma paradinha de certa complexidade na cabeça do samba fez a “Ritmo Meritiense” tocar para Omulu. Já na bossa do refrão do meio, a bateria faz louvação musical a Xangô, num arranjo mais simples, mas bem elaborado. O breque com nuance das caixas provoca molho no início da segunda do samba. E na mesma segunda, uma paradinha ajudou a impulsionar o refrão principal após a retomada. Movimentos de ritmistas pela pista, trocando de lugar, também receberam ovação do público.
A bateria do Acadêmicos de Vigário Geral, comandada por mestre Luygui, ajudou a conduzir o samba animado. A obra foi bem interpretada por Tem Tem Jr., vestido de Capitão América bem no clima do enredo infantil. O arranjo musical no início da segunda evidenciou o bom balanço das caixas. A bateria da Vigário Geral virar antes do refrão do meio também auxiliou na fluidez do ritmo. A bossa da segunda tem um grau de complexidade musical elevado. A bateria “Swing Puro” se abaixou para efetuar uma subida progressiva durante o arranjo no refrão que precede o de baixo, que se estende até uma paradinha no refrão principal, que quando são exibidas de forma casada ajudam a impulsionar a musicalidade.
A bateria do Império da Tijuca, de mestre Jordan, teve sua musicalidade centrada nos arranjos com atabaques. A bateria Sinfonia Imperial subiu com paradinha antes do refrão do meio, em que ocorre solo de atabaques. Esse arranjo musical além de extenso é desafiador, além de plenamente atrelado ao enredo. Uma bossa na primeira do samba também utiliza atabaque em sua construção. Já a paradinha da final da segunda, mesmo mais simples, ajuda na fluência entre naipes após a retomada. Numa construção musical mais arrojada, atabaques ecoam fazendo solo durante o trecho do samba “Tambor, Ogã”, terminando o arranjo fazendo um toque conhecido como “Machado de Xangô”.
A bateria da Estácio de Sá, de mestre Chuvisco, ajudou a jogar o clima lá no alto. Subiu com paradinha no refrão principal, seguida de uma bossa na cabeça. A virada da bateria na preparação para o estribilho principal, com a subida dos tamborins, ajudou a alavancar o ritmo e na plena fluência entre os naipes. A paradinha bem construída do refrão do meio exibiu uma musicalidade acima da média, dando um balanço considerável a bateria “Medalha de Ouro”. O término do desfile da bateria do velho Estácio foi um show de alegria e energia.
A bateria da Unidos de Bangu, comandada por mestre Laion, exibiu uma musicalidade privilegiada. A convenção envolvendo a subida tem grau de dificuldade elevado, sendo executada de forma eficaz. A bateria “Caldeirão da Zona Oeste” tocou o Alujá para Xangô na bossa do refrão do meio, numa concepção de bom gosto. Já a paradinha da segunda era de grau de dificuldade elevado e bem construída. Mesmo com essa densidade em convenções, o refino musical fica ainda mais evidenciado num arranjo com surdos no final da segunda do samba, fazendo referência ao “Machado de Xangô”, mas de forma bem sutil e moderna. Uma sonoridade altamente vinculada ao aspecto religioso e cultural do enredo.
A bateria da Acadêmicos de Niterói, de mestre Demétrius, desfilou com um banner homenageando merecidamente os saudosos mestres Claudinho e Henrique, conhecidos no meio do ritmo como irmãos Billuckas. A bateria “Cadência de Niterói” exibiu uma bossa na cabeça do samba, como se fosse uma espécie de subida, com tamborins efetuando tapas no contratempo, dando balanço ao ritmo. Já a paradinha no final da segunda, mesmo possuindo concepção mais simples, se mostrou bem funcional, além de ajudar no swing da bateria após a retomada no refrão principal.
A bateria da Unidos de Padre Miguel, de mestre Dinho, exibiu um repertório musical que embalou os componentes da agremiação a uma bela apresentação. O arranjo musical da paradinha do refrão do meio tem dificuldade elevada, sendo bem executada. A paradinha do refrão principal, embora simples, tem bastante impacto graças à retomada com pressão, além de ser um êxito deixar para o canto em coro os dois versos mais fortes do pulsante estribilho. Inegável o balanço nordestino propiciado pela bossa da segunda do samba, permitindo um swing exemplar da bateria “Guerreiros”.
A bateria da Inocentes de Belford Roxo, de mestre Juninho, apresentou uma bossa do refrão do meio em que utilizou os surdos de terceira para dar balanço e logo após a bateria fez um breque simples, permitindo boa fluidez musical entre naipes. Já a paradinha do refrão principal possui densidade musical, terminando somente na primeira do samba. A bateria “Cadência da Baixada” efetuou uma virada na entrada no refrão principal que utilizou tapas do tamborim no contratempo, dando molho posteriormente ao ritmo.
A bateria da São Clemente, comandada por mestre Caliquinho, se exibiu com a tradicional subida de 4 dos surdos, possibilitando a fluência entre os mais diversos instrumentos. A paradinha do refrão principal faz alusão musical ao gênero Funk, numa referência condizente com o que pede o samba enredo. Já a bossa do refrão do meio da “Fiel Bateria” apresentou um arranjo funcional, dando bom balanço ao ritmo, com complexidade na retomada, o que preenche de valor a sonoridade.
A bateria da União da Ilha do Governador, de mestre Marcelo, se apresentou realizando sua subida de três tradicional dos surdos, com um leve breque dando molho durante a primeira do samba. A bossa do refrão do meio exibiu bela musicalidade, com batidas chapadas, terceiras dando balanço e caixas contribuindo para o ritmo insulano. A paradinha no final da segunda se mostrou funcional, adicionando pressão no refrão principal após a retomada. Outra bossa também na segunda, mas antes dessa, une ritmo a interação popular deixando o trecho “Portela” para ser cantado em coro. A “Baterilha” também executou uma paradinha muito bem elaborada no final do refrão principal, com solo de agogôs, atrelada a uma sonoridade ímpar, terminando na primeira do samba em progressão dinâmica.
A bateria da Unidos do Porto da Pedra, de mestre Pablo, demonstrou sua autenticidade. A bateria “Ritmo Feroz” subiu com o arranjo musical da paradinha que começa no fim da segunda do samba, mas sem executar a bossa por completo, somente esse trecho final e seguindo para o ritmo. Cabe ressaltar que essa bossa completa exibiu um molho diferenciado com alusão a musicalidade indígena, além de uma considerável pressão de retomada. A paradinha do refrão do meio, embora mais simples que as demais, foi bem executada. A bossa iniciada no final do refrão principal causou um impacto sonoro privilegiado na primeira do samba, proporcionando posteriormente balanço e fluidez musical entre naipes. Arranjos musicais arrojados, complexos e vinculados ao estilo musical do mestre.