A Unidos do Viradouro lançou a sinopse do enredo “Pra Cima, Ciça” para o Carnaval 2026, no evento realizado na noite da última sexta-feira, na quadra da Estácio de Sá. O local não foi escolhido por acaso: foi ali que Moacyr da Silva Pinto, o Mestre Ciça, estreou na função de comandante de bateria, em 1989. Prestes a completar 70 anos, em 2026, Ciça receberá na Sapucaí um tributo inédito. Ele será o primeiro mestre de bateria a desfilar como enredo de uma escola de samba.
Antes da leitura, o Grupo Mandiola cantou clássicos do samba carioca, com direito a participação especial de Lucas Machado e de Wandinho, filho do intérprete oficial da Viradouro, Wander Pires. Na entrada da área reservada para os componentes da Estácio e da Viradouro, os pavilhões da Estácio, Viradouro, Grande Rio, União da Ilha e Unidos da Tijuca – todas as agremiações que já tiveram Ciça no comando de bateria – saudaram o mestre. * LEIA AQUI A SINOPSE DA VIRADOURO
Visivelmente emocionado, Ciça falou ao CARNAVALESCO logo após a leitura. “O sentimento é de orgulho. Valeu a pena tudo o que fiz há 37, 38 anos. Esse reconhecimento da Viradouro é maravilhoso. Dos títulos que ganhei, esse foi o maior: ser enredo de uma escola de samba. É um campeonato”, resumiu.
Responsável pelo texto, o enredista João Gustavo Melo explicou que a narrativa cruza os 70 anos de Ciça com os 80 anos que a Viradouro completará em 2026. O penúltimo setor, adiantou, trará o “bonde do caveira”, como são conhecidos os ritmistas de Ciça, em referência ao apelido “Caveira”, que carinhosamente deram ao mestre. “Bateria é arte. Ritmistas são artistas. É uma forma de agradecer a esse segmento que toca e embala o nosso corpo, e escreve no tambor a poesia”, declarou o enredista.
O carnavalesco Tarcísio Zanon reforçou a ideia de simplicidade sofisticada. “O Ciça é uma escola de samba inteira”. Ele destacou que, pela primeira vez, “um quesito vai passar na Avenida como enredo”.
Já o presidente de honra da Viradouro, Marcelo Calil, lembrou o retorno do mestre em 2019, ano em que a agremiação voltou ao Grupo Especial. “Para essa escola voltar a ser grande, precisávamos trazer o Ciça de volta”, disse, pedindo aos compositores que escrevessem “o samba mais lindo da vida deles”.
O encerramento ficou por conta da bateria “Medalha de Ouro”, da Estácio, que subiu ao palco com os intérpretes Tiganá e Wandinho para alternar sambas históricos das duas escolas, selando o reencontro de Ciça com a batucada que o revelou.
Próximos passos
A disputa de samba-enredo da Viradouro já tem data para começar. A escola divulgou que a entrega dos sambas concorrentes acontecerá no dia 05 de agosto e o início da disputa será no dia 09 do mesmo mês. Já a final de samba está prevista para o dia 26 de setembro. Com o calendário definido, a Viradouro afina os tambores e inicia a contagem regressiva rumo a um desfile que promete incendiar a Sapucaí ao grito de “Pra cima, Ciça!”.
A fria noite da última quinta-feira revelou mais um enredo para o carnaval 2026 na cidade de São Paulo. Na tradicionalíssima quadra da rua Carminha, a Unidos de São Lucas apresentou à comunidade e ao mundo do samba um tema que será apresentado no Anhembi na próxima temporada. Intitulado “Meu Tambor É Ancestral – Heranças e Riquezas de Um Povo… Um Brasil de Festas Pretas”, uma apresentação será desenvolvida pelo carnavalesco Anselmo Brito.
Em entrevista para o CARNAVALESCO, Anselmo Brito, carnavalesco estreante na instituição, contou como surgiu a ideia de abordar tal tema: “O enredo surge numa conversa minha com o presidente, na possibilidade de a gente trazer um enredo que teve uma centrada de três fatores: que ele fosse algo cultural, que trouxesse uma questão de religiosidade e que lembrasse muito os dois grandes carnavais que a escola fez nos últimos dois anos. Daí surgiu a ideia e nasceu o enredo sobre o tambor. que seria um grande enredo. Vamos falar de ancestralidade, vamos fazer um grande cortejo na avenida por um dos instrumentos mais importantes que existem, através de Angalu e toda a espiritualidade vinda dele”, destacou.
Sobre o orixá citado pelo carnavalesco, vale destacar que existe uma série de denominações para a entidade ligada ao tambor: Angalu, Ayanalu, Ayagalu, Ayan, Ayon ou Ayan Agalu são algumas das outras nomenclaturas comumente utilizadas.
Narrativa
Anselmo também explicou qual recorte usado para desenvolver o enredo: “Mais do que nunca, vamos enfatizar a importância do povo preto e das festas deles. Tanto é que vamos apresentar no nosso desfile festas para o povo preto. Nós vamos mostrar muito do tambor no Brasil, mas vamos começar com o nascimento do tambor, em solos africanos, através da raiz de uma árvore. Dessa árvore se faz o primeiro tronco. E esse tronco vem, junto com os nossos ancestrais, com o povo preto, dentro do navio negreiro. Ali ele aporta em solo brasileiro e viaja por todas as nossas regiões. Ele também é instrumento de festividades – logo, vamos trazer o tambor na capoeira, no boi-bumbá, no frevo, vamos descer o Pelourinho, vamos com o Olodum e vamos terminar com o tambor dentro daquilo que há de mais importante, que a nossa maior manifestação cultural hoje: o carnaval, que é o nosso palco”, frisou.
Aprovação imediata
Se o enredo, mais do que foi aprovado, surgiu após uma conversa com o presidente Nanão, o principal mandatário são-luquense elogiou os rumores que a escola tomou para o ciclo carnavalesco: “A ideia do Anselmo é perfeita. Eu nunca tinha conversado com ele antes, eu apenas ouvia falar dele nos vai e vem da FUPE. não é só uma ideia: a plástica que ele está apresentando também está. A gente está trabalhando, os pilotos já estão prontos, logo mais a gente vai estar apresentando. A gente já está dando andamento nas nossas alegorias na FUPE porque o carnaval é daqui a seis meses.
Vale destacar que a FUPE, citada pelo presidente, nada mais é do que o apelido da Fábrica do Samba II, espaço em que as escolas dos Grupos de Acesso I e II da Liga-SP confeccionaram como alegorias próprias.
O dirigente também se orgulha das últimas questões desenvolvidas pela escola, aclamadas também pelo mundo do samba pela densidade cultural de cada uma delas: “Eu entendo todos os temas. Os chamados CEP, os patrocinados…, mas eu tenho, com a minha essência, com o meu povo, essa responsabilidade de trazer a ancestralidade, de trazer a parte religiosa. Nós somos a escola de samba, nós somos a extensão de um terreiro. A gente tem que trabalhar para esse povo. Vai ter um momento em que a gente vai fazer um tema diferente. a responsabilidade de levar tudo isso na cultura. Uma ancestralidade, uma religião. E mostrar que o carnaval também é para o povo preto e para o povo pobre. É para todos. Todos. Sem distinção de raça, credo, religioso, profissão, opção sexual. O carnaval é para todos”, refletiu.
Próximos passos
Anselmo destacou que o planejamento da escola está a plano vapor e já com carros alegóricos sendo preparado: “Hoje a gente está em um processo importante. A gente já faz dois meses de desenvolvimento, já temos os nossos pilotos prontos. Toda a parte artística da escola eu já desenhei, todos toda a escola já está no papel, já fizemos os pilotos. Agora, a gente já está partindo para o barracão, para as alegorias e também para a produção. Pode ter certeza, pode esperar um grande carnaval. A São Lucas vai adentrar a passarela do samba não só numa grande festa, mas numa manifestação. Eu digo que o tambor só vem realmente exaltar mais ainda o trabalho cultural da nossa escola”, afirmou.
Nanão também explica os próximos dados importantes ligados à agremiação: “Queremos sentar com os compositores já no final da próxima semana para fazer uma explicação do que a gente quer. Vai ter, sim, um final de samba-enredo – e vai ser nesse formato tradicional de escolha. Isso agrega muito para a escola e isso faz com que continue viva a função do compositor de escola de samba. Nada contra quem encomenda, nada contra quem vai lá e escolhe um samba com os amigos. Mas o nome já diz tudo: escola de samba. Ela ensina e, ao mesmo tempo, ela aprende. Quando o compositor vem, dá a canetada e passa para nós, nós estamos aprendendo, também, logo mais, o aniversário da escola (que completa 45 anos dia 22 de agosto) e o final de samba-enredo. de São Paulo”, finalizou.
Cronograma
Desde quando a reportagem chegou à quadra, chamou a atenção o clima de terreiro no local. Fumaça, atabaques, máscaras africanas e todos os vestidos de branco davam a entender que o tema teria algo ligado à cultura africana. E, antes de qualquer apresentação da escola em si, quem também se fez presente foi a Escola de Curimba Tribo de Zambi, executando pontos de orixás.
Após a apresentação, que também teve a participação da Bateria USL, comandada pelo mestre Andrew Vinícius, a exibição do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da instituição, Erich Sorriso e Victoria Devonne, foi a hora do presidente Adriano Freitas, popularmente conhecido como Nanão, e outros diretores falaram um pouco sobre o que viria.
E, então, veio o vídeo que apresentou o enredo. Logo depois, mais algumas palavras de nomes importantes da agremiação da Zona Leste paulistana – como é o caso de Anselmo Brito. Para encerrar, Tuca Maia, intérprete são-luquense, cantou os últimos quatro sambas da escola: “De Vila Esperança ao Centenário do Águia da Central… Seo Nenê o Baluarte do Samba, São Lucas 40 Anos” (2022, campeão do Grupo de Acesso I de Bairros da UESP); “Jongo” (2023, campeão do Especial de Bairros); “O Canto das Três Raças… O Grito de Alforria do Trabalhador!” (2024, vice-campeão do Grupo de Acesso II da Liga-SP) e o aclamado “ Ijexá ” (2025). Especialmente os dois últimos, por sinal, foram fortemente cantados pelos presentes.
Marquês de Sapucaí. Palco de homenagens inesquecíveis a notáveis do nosso tempo. No terreiro maior do Carnaval carioca, construiu-se um tipo originalmente brasileiro de reconhecimento em vida. Atravessar em triunfo toda a extensão do Sambódromo ao coro de um samba de enredo, composto especialmente para reverenciar os ídolos de uma nação, é uma forma única de aclamação popular. Um instante que fica para sempre na memória afetiva de um país.
A Unidos do Viradouro, ao completar 80 anos de fundação em 2026, ouve o próprio pulsar da bateriae celebra uma personalidade vitalnessa trajetória: o sambista Moacyr da Silva Pinto, artista do nosso Carnaval. Ao completar 70 anos de vida e 55 anos do seu primeiro desfile, Mestre Ciça cruzará a Sapucaí em pleno ofício. Fluente na língua do tambor, agora é a vez de escrever sua epopeia na melodia de um novo samba de enredo. É a Furacão Vermelho e Branco se olhando no espelho e dizendo…
PRA CIMA, CIÇA! OS TAMBORES DE 2026 VÃO RUFAR PRA VOCÊ!
1ªCABINE – SAMBA DE SAMBAR DO ESTÁCIO
Pra cima! Era aonde olhava uma cidade que despertava para um jeito diferente de fazer samba. Autêntico movimento modernista nascido nos morros, exímios músicos dos terreiros pintaram no Carnaval uma nova tela ao encourar instrumentos percussivos em pele e fogo. Pioneiros do Estácio, que “num repente genial”, tiveram “uma ideia feliz”: esculpir um majestoso leão, pousado sobre uma carreta e levado em desfile pela rapaziada que circulava pelo São Carlos. Assim, o grupo fundador da Deixa Falar, agremiação híbrida, meio bloco, meio rancho, mas escola de samba na raiz, ergueu um totem altivo e feroz para, em torno de um único símbolo, reunir aquela comunidade essencialmente musical.
O Rio de Janeiro foi despertado no fundo da alma com a tal novidade sincopada de cadência explosiva, embalada no Berço do Samba. Com o ritmo mais batucado, o tambor rugiu em “paticumbuns” e “prugurunduns”. A massa entoava em coro novas melodias, com notas mais alongadas que as do maxixe e outras modas. No compasso dessa novidade uníssona com a realidade urbana carioca, o “samba de sambar” provocava o corpo de cada sambista, que passou a caminhar e a gingar com mais malemolência.
Em tempos de Unidos de São Carlos, na zona doMangue, hoje palco da nossa concentração, a comunidade atravessava o baixo meretrício fantasiada com a elegância de realeza foliã. Rufiões e mariposas vigiavam a Lua, enquanto virtuoses batuqueiros escreviam poemas sonoros em surdos, cuícas, reco-recos e pandeiros. Nesse berçário de feras, um filhote de leão brincava de Carnaval e, em 1971, tornou-se passista da São Carlos. Mas também riscou o chão em giros e mesuras como mestre-sala do Bloco dos Peninhas, uma dentre muitas agremiações carnavalescas do bairro. Depois de escrever o samba em bailado, aprendeu a desenhá-lo em arranjos percussivos.
2ª CABINE – O REI DOS NAIPES
Ali, onde flanava a nata da boemia estaciana a soluçar “bem alto o cavaquinho”, o franzino Moacyr foi aprender as manhas do jogo da percussão até dar as cartas e se afirmar como CIÇA (assim mesmo, em CAIXA ALTA), continuando a revolução rítmica no time do leão vermelho e branco. Baqueta partida, caixa de guerra ao alto, toque pra frente… era a busca da levada perfeita.
Na disputa carnavalesca de 1989 pela Estácio de Sá, o jogo virou e Ciça estreou como o Rei dos Naipes, com escudeiros fiéis que seguiram o comando da sua batuta. Com o enredo “Um Dois, Feijão com Arroz”, o novo Mestre já foi jogando seu “tempero especial” cheio de molho nas peças leves e na “cozinha”, mostrando que viria pra cima com seus achados percussivos. Mas foi na suspensão do som em bossa desvairada que se desenhou a trilha para o primeiro título.
Na cadência de um desfile consagrador, a “Medalha de Ouro”quebrou a banca e emoldurou o canto pintado em aquarela do inesquecível Dominguinhos. O apito do Trenzinho do Caipira se uniu ao do Mestre, atravessando a Passarela como um monumento musical à Semana de Arte Moderna. Era a glorificação de toda aquela gente bamba do bairro que expôs ao Brasil real as obras de uma autêntica revolução artística em forma de samba. A Estácio deu a artepro seu povo e não deu outra… LEÃO NA CABEÇA!
3ª CABINE – OUTROS TAMBORES
O arrojo rítmico da bateria estaciana foi conquistando a Sapucaí.E nesses dribles épicos do destino, Ciça acabou sendo escalado para o centenário de duas paixões rivais. O coração cruzmaltino incendiou a arquibancada ao comandar a charanga rubro-negra em exibição de gala. Mais tarde, deixou a toca do leão para defender outras bandeiras. Desta vez, honrou o seu Gigante da Colina, agora sob o manto azul e ouro do Borel. Na batida do tempo, fez-se rei de muitos súditos e muitas rainhas em terras de Niterói e de Caxias, indo, anos depois, içar velas rumo ao colorido mar insulano.
Inquieto, o Maestro do Morro imprimiu em cada bateria o registro da ousadia, cuca antenada que nunca deixou de inovar. Pausas de mil compassos, joelhos abaixo, instrumentos pra cima… Pra cima, Ciça! (O que mais faltava inventar?)
Ainda no primeiro tempo do jogo com a Viradouro, elevou suas peças ao patamar do impossível. Ao tirar o fôlego da Avenida suspendendo a bateria, a arquibancada foi ao êxtase! Toque de Mestre em pegada de magia.
Feiticeiro das invocações das inquices, do Ijexá ao povo das águas e do Adarrum aos voduns, foi a fundo nas raízes místicas do tambor para decretar: “VAI TER MUITA MACUMBA NA AVENIDA”. Atabaques chamaram o sagrado e ergueram a vitória, consagrando-o premiado e duas vezes campeão.
O resto… é samba que ainda vai nascer…
4ª CABINE – BONDE DO CAVEIRA
Nessas andanças e memórias,Ciça foi traçando seu estilo arrojado nas agremiações pelas quais passou. A história das escolas de samba não é regida apenas pelas disputas, mas pelo sangue da música que corre nas veias de cada ritmista. Trilha composta em agudos e graves, tempo e contratempo nas oscilações do andamento da vida, mas sempre com pegada pra frente.
Dos fantasmas do percurso, às glórias do ofício, o Mestre é lenda viva para os que embarcam no balanço do bonde do Caveira. Muito além do momento de conquistar as notas na Sapucaí, a convivência durante os meses que antecedem a grande noite faz da bateria um aprendizado coletivo, no verdadeiro sentido do nome escola de samba.
Tanto faz se é “sarapo”ou “camisa 10”, cada componente é sopro na ventania. Tropa que abraça seu Mestre soltando a mão no couro, plangendo a cuíca, vibrando como os discos metálicos do chocalho, desenhando frases no tamborim, atacando nas caixas de guerra, na chamada do repique, pulsando nas marcações… Legião que encontra na bateria o real sentido da festa: fazer o Carnaval não ter fim.
APOTEOSE – UM FURACÃO QUE VAI PASSAR
O intrépido Moacyr é exemplo dos valores que sustentam o samba verdadeiro. Alegre, desvairado, apaixonado, da favela, popular, da amizade, do improviso, da disciplina, do jogo de cintura, do coletivo, da generosidade. Ele é por todos e todos são por ele. Vendaval de ritmo que nasce em brisa de ensaio. Trovão que ressoa em noite de Carnaval.
Nosso homenageado traz em si a energia de uma agremiação em desfile. Um Grêmio Recreativo Escola de Som que, aos 70 anos, acumula a ousadia dos moços e a sabedoria dos mestres.
Na batida do tempo, vira a esperança de uma garotada que se espelha no grande artista consagrado em enredo pela escola mãe.
Este desfile tem como Apoteose a continuidade de uma saga que não acaba em 80 minutos.
Obrigado, Mestre! E desculpe por não dar fim a essa história.
(É que ano que vem tem mais show…)
PRA CIMA, CIÇA!
Carnavalesco: Tarcísio Zanon
Texto: João Gustavo Melo
REFERÊNCIAS:
CABRAL, Sérgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Lumiar, 1996.
CASTRO, Maurício Barros de; VILHENA, Bernardo. Estácio: vidas e obras. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2013.
CAMÕES, Marcelo; FABATO, Fábio; FARIAS, Julio Cesar; SIMAS, Luiz Antonio; NATAL, Vinicius. As Titias da Folia: o brilho maduro de escolas de samba de alta idade. Rio de Janeiro: Novaterra, 2014.
FRANCESCHI, Humberto Moraes. Samba de Sambar do Estácio: 1928 a 1931. São Paulo: Instituto Moreira Sales, 2010.
LIRA NETO. Uma História do Samba: As origens. São Paulo:Companhia das Letras, 2017.
SIMAS, Luiz Antonio; FABATO, Fábio. Pra tudo começar na quinta-feira: o enredo dos enredos. Rio de Janeiro: Mórula, 2015.
A Inocentes de Belford Roxo já tem nova soberana à frente da sua bateria “Cadência da Baixada” para o Carnaval 2026. A escola anunciou oficialmente Carolane Silva como rainha, que terá a missão de representar a comunidade com garra, carisma e muito samba no pé na Marquês de Sapucaí.
Carioca do bairro de São Cristóvão, aquariana, vascaína e apaixonada pela cultura popular brasileira, Carolane assume o posto com o compromisso de unir beleza, representatividade e responsabilidade. A nova rainha traz no currículo passagens de destaque pelas alas de passistas do Império Serrano, Vila Isabel e Salgueiro, onde construiu uma trajetória marcada por respeito e dedicação.
“Ser rainha de bateria vai muito além de representar beleza. É sobre honrar uma comunidade, carregar um pavilhão no coração e ser uma porta-voz da nossa cultura. Meu objetivo é viver esse reinado com verdade, com entrega, e fazer com que a Inocentes brilhe na avenida e contagie o público com a força da nossa bateria”, afirma Carolane, emocionada.
Filha de nordestinos, Carolane conheceu o mundo do samba em 2012, ao visitar a quadra do Paraíso do Tuiuti, e desde então vem construindo uma história de amor pelo Carnaval. Ela é também profissional de Educação Física, mãe do Felipe e estudante de Gestão Pública. Fora do universo carnavalesco, é apaixonada por viagens, natureza e frutos do mar.
A coroação da nova rainha está prevista para o mês de julho e promete reunir nomes que marcaram sua trajetória e a inspiraram ao longo dos anos, como a icônica Viviane Araújo, referência de empoderamento e paixão pelo samba.
Em 2026, a Inocentes de Belford Roxo levará para a avenida um enredo em homenagem ao estado de Pernambuco. A expectativa da escola é fazer um desfile histórico, com a Cadência da Baixada sob o comando do mestre Washington Paz e agora com o brilho de Carolane Silva como majestade da bateria.
A Portela realiza, neste sábado, mais uma edição da Tradicional Feijoada da Família Portelense. O evento, que acontece todos os meses na quadra da Majestade do Samba, contará com o elenco show da escola, participação das 11 coirmãs do Grupo Especial, além da cerimônia de posse da nova diretoria.
Intitulada como Feijoada da Vitória, a edição do mês de junho irá marcar o início oficial da gestão do Presidente Junior Escafura, Vice-presidente Nilce Fran e da Presidente de Honra Vilma Nascimento à frente da Azul e Branca de Oswaldo Cruz e Madureira. Entre as novidades que serão apresentadas para o público, uma delas é a estreia de Mestre Vitinho no comando da Tabajara do Samba.
A abertura do evento fica por conta de Gilsinho e sua Banda, dando sequência a programação a tradicional Velha Guarda Show, com participação especial de Marquinhos de Oswaldo Cruz e As Herdeiras do Samba da Portela e o encontro dos 12 pavilhões do Grupo Especial. Para encerrar, muito samba raiz com o show completo de Délcio Luiz.
A quadra da Portela fica localizada na Rua Clara Nunes, 81, em Madureira. A abertura dos portões é às 13h e os ingressos estão à venda no site Bilhete Digital.
Serviço:
Tradicional Feijoada da Família Portelense – Feijoada da Vitória
Atrações: Gilsinho, Velha Guarda Show, presença das 11 coirmãs do Grupo Especial, Délcio Luiz e posse da nova diretoria.
Data: Sábado, 07 de junho.
Horário: A partir das 13h
Local: Quadra da Portela (Rua Clara Nunes 81, Madureira)
Ingressos: Ingressos à venda no site Bilhete Digital
A Unidos da Tijuca apresentou a logo que ilustrará o enredo sobre Carolina Maria de Jesus no Carnaval 2026. A ilustração é assinada pelo designer Rodrigo Cardoso.
O banner faz releitura de uma foto emblemática de Carolina Maria de Jesus lendo uma matéria sobre ela no jornal. Na construção imagética poética, Carolina contempla seu enredo, sem o lenço que lhe foi prisão, coroada de livros e escritos, vestida de palavras e inspiração.
Ao fundo, a imagem do desfile de 1982, cujo tema foi o escritor negro Lima Barreto, prenuncia a passagem de bastão: a Tijuca literária de Lima, abre passagem para a Tijuca das letras de Carolina.
O Paraíso do Tuiuti retomou na última terça, o projeto “Aos passos do Paraíso”, coordenado por Alex Coutinho e Jorge Amarelloh. A iniciativa oferece aulas de samba no pé para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Serão aceitas inscrições de interessados a partir dos 10 anos de idade (acompanhado de um responsável).
Os candidatos serão divididos em duas turmas: uma infantil; a outra, para adultos. De acordo com os idealizadores do projeto, não há um limite máximo de idade para os interessados.
“Nossa oficina é para todas as idades. É para aquela pessoa que quer desfilar de passista ou só sambar no churrasco do fim de semana”, adianta Alex.
Todas as aulas ocorrerão às terças-feiras, sempre a partir das 20h, na quadra do Tuiuti, no bairro de São Cristóvão. Para a inscrição, é preciso levar uma foto 3×4, cópia do RG, CPF (para quem tiver) e comprovante de residência. Para menores de idade, levar uma foto 3×4, cópia do RG ou certidão de nascimento, comprovante de residência, declaração escolar, e cópia do RG e CPF do responsável. A taxa de matrícula será de R$ 80 (para confecção de uniformes).
Os organizadores do projeto pedem que os alunos usem roupa de ginástica preta e tênis.
Ocupamos o espaço público. Se somos, afinal, livres, então não deveria haver problema algum nisso. Já não há mais distinção entre “nós” e “eles”, certo? A rua também é nossa — ou não? Num país que aboliu a escravidão com uma canetada, sem nenhuma reparação, ocupar é — e sempre foi — nossa forma de autorreparação. Nossa articulação pela cidadania. Ocupar é ressurgir, resistir, transgredir. Fazemos do corpo-travessia, da fé e da memória, um ato político: liberdade conquistada — tardia, mas viva. A cidade é nossa. O Largo do Mercado, também.
Livres, portanto, não escondemos mais nossas roupas de santo, as rendas de rechilieu, os panos da costa, as contas de proteção. Não baixamos a cabeça. Não silenciamos nossos cânticos, nem apagamos nossa fé. Não renegamos nossa cor, nossas origens. Não escondemos nossa ancestralidade: raízes fincadas no massapê do Recôncavo, regadas com nossas lágrimas e nosso suor.
Seguimos, sob a régia de Funfun, no equilíbrio das forças que nos guiam, rumo ao território que antes nos fora negado. Somos nós, o povo de João de Obá. Somos nós: pescadores, capoeiristas, baianas — marisqueiras, quituteiras, ganhadeiras, mães de sangue, de samba, de santo.
É cortejo, é batuque, é levante. Ano após ano, caminhamos de cabeça erguida — todos nós — em direção ao nosso lugar, como aprendemos desde 13 de maio de 1889. Não nos detemos diante dos olhos tortos — seguimos. Não reagimos a ataques — ocupamos.
Ao toque dos primeiros atabaques, Santo Amaro da Purificação desperta. Na alvorada, os fogos riscam o céu com luzes cintilantes e anunciam: o dia é nosso. Quebramos as encruzilhadas, damos água ao chão, erguemos nossa cumeeira, hasteamos a bandeira e plantamos nosso axé no coração do Mercado.
Assim, abrimos caminho para que o Candomblé ganhe as ruas — livre, como na terra dos nossos ancestrais. Ocupamos para ver e sermos vistos. Para sermos. Para estarmos. Ocupamos o chão sagrado — como um Beija-Flor que toma a avenida uma vez por ano, celebrando a ancestralidade e a nossa comunidade em festa.
Chegamos. É o Mercado. É o meio da rua. Casa de Exu, quem transforma interditos em passagens. Onde agora assentamos nossa energia vital — em forma de resistência, em forma de transgressão. O cheiro de alfazema, arruda, manjericão e guiné invade o ar como uma sinfonia de aromas que preenche o ambiente. Animais, grãos, farinhas, sarapatéis, maniçobas, dendês, carnes, frutas — tudo para alimentar nossas cozinhas e preparar nossos padês. Crianças correm, os mais velhos jogam com a sabedoria do tempo, mulheres e homens vendem com olhar atento e ritmo seguro, enquanto as moedas circulam como pulsos de vida. Compra, escambo.
O espaço público se transforma a cada movimento, vibrando em cores, sabores e sensações, como se a terra despertasse para a consciência de sua força: pindobas balançam ao vento, o peregum traz proteção, e as bandeirolas dançam conosco num abraço de fé e cor.
O caos se refaz em ordem; a mistura, em harmonia. Uma desorganização orquestrada, onde tudo se refaz para renascer. Cada tenda se torna altar, cada barraca, um elo que nos liga ao passado e ao futuro — tecendo, com nossas próprias mãos, a corrente que não se rompe: apenas se renova. A energia flui com naturalidade, como se soubéssemos, em nossas almas, que o Candomblé pertence à praça pública. Orum e Ayê já não se distinguem mais. É nesse lugar — não por acaso, mas por destino — que, no mês de maio, tudo se prepara para ser encantado. E assim tem sido há 136 anos.
Ali, a arte preta também se coloca — nas tendas de artesanato, culinária, literatura, teatro — expressões vivas do nosso fazer criativo, que ecoam a alma de uma comunidade que não se cansa de inventar e resistir. Celebramos nossa arte, nossa gente, com o Nego Fugido, o Maculelê, o samba de roda, a capoeira, o terno de reis, mandus, bombachos, caretas — manifestações que reverberam a força do povo preto do Recôncavo baiano, unido em prol da liberdade.
Nesse mesmo território, o xirê acontece em nossas noites de cânticos e oferendas aos espíritos que regem a festa. Os ogãs invocam os atabaques que ressoam — da força que abre caminhos à que sustenta a criação. O Mercado se sagra, tomado por nossa presença ancestral.
Somos gente que reza, canta e dança, unida no tempo espiralar. O calor sagrado nos purifica e transforma, enquanto as folhas curam e protegem com sua seiva de sabedoria. O guerreiro avança, abrindo trilhas e nos concedendo coragem. Perseguimos a fartura com precisão e firmeza, enquanto ventos de renovação sopram sobre a terra. A natureza se revela em sua totalidade: cada gesto nos conecta ao divino.
Vivemos a liturgia das nossas tradições e das Nações do Candomblé. O território consagrado respira memória, energia e vida: chão de axé onde o passado encontra o presente, onde o sagrado pisa firme e se torna visível nas ações, nas vibrações que atravessam o tempo. Ali, mantemos acesa a herança, reinventando-a a cada giro, reafirmando-a em cada canto. É festa, é culto, é resistência. Um outro fluxo, onde vivos e ancestrais dançam juntos.
No ápice da celebração, os trompetes anunciam a chegada dos presentes. Dois balaios se oferecem em reverência às Yabás: um azul para Yemanjá; outro dourado para Oxum. A elas, nosso profundo agradecimento pela liberdade conquistada e pela emancipação do povo preto. Neles estão girassóis, rosas brancas, lírios, alfazema, perfumes, sabonetes, espelhos, brincos — objetos escolhidos com zelo, carregados de afeto e respeito. O que se entrega é louvor e súplica, lembrança do passado e esperança no futuro.
Que essas oferendas tragam boas águas, bênçãos e vitórias, e afastem o que é ruim: a inveja, a ponta da faca, a tristeza. Quando o presente não chega, a cidade sente — é um clamor coletivo para manter vivos seus filhos e filhas. É ebó, tecnologia ancestral de proteção e resistência. Sem ele, não estaríamos aqui.
Um caminhão, cercado de gente — de santo e de não-santo — segue pelas ruas da cidade sagrada, rumo às águas onde tudo começou. A carreata passa pela Igreja da Purificação, onde rosários ecoam memórias ancestrais. Transita pelos terreiros mais antigos, guardiões de séculos de história e fé, e segue pelas casas de personalidades santoamarenses, símbolos de uma tradição viva: Tia Ciata, Dona Canô, Edith do Prato, Nicinha do Samba, Mãe Guiomar, entre tantas outras.
Das margens do Rio Subaé às marés da praia de Itapema, o cortejo avança em direção ao mar sagrado, azul e branco. Se toda terra tem dono, a água pertence a todos nós. É nela que entregamos, em forma de ritual, o trabalho de um ano inteiro. Recebem as oferendas Oxum, Senhora das águas doces, do amor e da fertilidade, e Yemanjá, Senhora do mar, mãe de todos os oris.
Assim se dá o Bembé — o maior Candomblé de rua do mundo — nascido da transgressão de João de Obá, mantido na resistência de Pai Tidu, acalentado na doçura de Mãe Lídia, insistido na inquietude de Pai Pote e preservado na firmeza de sua Iyá Egbé e de seus detentores.
No meio dessa festa, nossos olhos se confundem. Somos nós, o mesmo povo que reza, dança, samba, canta e celebra em comunhão — seja nas areias de Itapema ou no solo sagrado da Marquês de Sapucaí. É o encontro agendado pela ancestralidade, que confirma o que nos ensinou Cabana: “Ser de Nilópolis é a mesma coisa que ser da Bahia.” Como o balaio que atravessa o mar do Recôncavo, nós avançamos a Sapucaí com nosso desfile-presente nilopolitano: um rito que agradece pelas batalhas vencidas e, com fé renovada, pede às Yabás das águas que abram caminhos para mais um ano.
Amanhã, talvez, tudo recomece. Afinal, resistir, ocupar, reexistir e transgredir é o que nos mantém, Beija-Flor, é o que nos mantém, BEMBÉ.
Carnavalesco: João Vitor Araújo
Pesquisa e texto: Vívian Pereira, Guilherme Niegro e Bruno Laurato
Colaboradores: Ana Rita Machado e Antonioni Afonso
A apresentação da sinopse do enredo “Pra cima, Ciça!”, que a Viradouro levará à Avenida no próximo Carnaval, vai acontecer nesta sexta-feira, às 19h, na quadra da Estácio de Sá. O carnavalesco Tarcísio Zanon destaca as razões que levaram a escola a escolher a quadra da coirmã para o lançamento da sinopse.
“A Estácio é a escola onde ele se forma e, a partir daí, a gente consegue fazer um processo de imersão junto aos compositores. Ali é o local da essência de todo esse aprendizado e onde surge essa paixão do Ciça pelo ritmo e pelo Carnaval”, comenta o artista que assinará o sexto desfile consecutivo na Viradouro em 2026.
A disputa de samba-enredo na Viradouro é aberta a todos os compositores. A quadra da Estácio de Sá fica na Avenida Salvador de Sá, 206, Cidade Nova.
Após um ano afastada do carnaval carioca, a atriz, empresária e influenciadora Thalita Zampirolli está de volta à Marquês de Sapucaí. Em 2026, ela será a Rainha de Bateria da Unidos da Ponte, escola de samba de São João de Meriti, marcando seu aguardado retorno à folia do Rio de Janeiro.
Thalita, que também ocupa o posto de Rainha de Bateria da escola Chegou o Que Faltava, no Espírito Santo, vive um momento especial em sua trajetória pessoal e profissional. Sua presença promete trazer ainda mais brilho, carisma e representatividade ao desfile da Unidos da Ponte.
“Estou muito feliz em voltar ao Carnaval do Rio, dessa vez como rainha de bateria da Unidos da Ponte. É uma honra representar essa escola tão querida e mergulhar novamente nessa energia única que só a Sapucaí tem. Estou me preparando com muito amor e dedicação para fazer bonito”, afirma Thalita Zampirolli.
Dona de uma presença marcante e carismática, Thalita promete um desfile inesquecível. Com seu estilo autêntico e grande engajamento nas redes sociais, ela vai unir beleza, samba no pé e muita dedicação à frente da bateria meritiense.
A Unidos da Ponte já se prepara para um grande desfile em 2026, e a coroação de Thalita como rainha reforça o compromisso da escola com a valorização de nomes fortes e inspiradores no cenário do samba.