Por Matheus Mattos. Fotos: Magaiver Fernandes
Responsável por abrir a segunda noite de desfiles do Grupo Especial de São Paulo, a Águia de Ouro contou com uma presença do público bem maior em comparação à sexta-feira. Postura ousada da bateria, simpatia do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira e, canto forte dos componentes se destacaram num desfile correto, com poucos erros.
Bateria
Os ritmistas da Batucada da Pompéia, do Mestre Juca, vieram todos fantasiados de Navegadores portugueses, os responsáveis pela exploração e descobrimento do Brasil. A bateria adotou uma postura ousada em relação as bossas. Foram efetuadas exatos seis apagões e quatro paradinhas entre naipes. O tamborim se destacou pela simplicidade dos desenhos, poucos arranjos ousados e valorização do carreteiro. A linha de frente, composta por ritmistas de chocalho, se destacaram pela simpatia durante a passagem no sambódromo.
Comissão de Frente
A comissão de frente da agremiação esteve inserida no contexto das viagens marítimas do século XVI, representando a chegada dos portugueses no Brasil e o encontro com os indígenas. O quesito traz uma visão de que a terra foi invadida e saqueada, e a coreografia trabalhou na postura de resistência dos nativos em relação ao domínio dos europeus. O quesito também contou com duas composições coregráficas que significou as riquezas das florestas. A reação no rosto dos bailarinos, especificamente dos índios, chamou a atenção. Os dois grupos trouxeram fantasias suntuosas, com pequenos detalhes até mesmo na maquiagem e pintura do corpo. O momento da batalha animou a arquibancada.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal da agremiação, João Carlos e Ana Paula, representaram o sentimento de soberania dos portugueses durante a exploração do Brasil. Ambos vieram carregando um tom dourado e com muitos faisões, dando ênfase a proposta. A dupla cativou pela simpatia em grande parte do bailado. O mestre-sala carregou segurança e destreza, e a porta-bandeira com domínio correto do pavilhão, sendo bem exaltado e estendido no segundo módulo do jurado do quesito.
Harmonia
O canto da escola se mostrou bem competente nos cinco setores, porém houve oscilações do quesito durante a realização de alguns apagões. O segundo, feito no minuto 17, teve falta de sincronismo entre as alas do primeiro e segundo setor com o carro de som. O descompasso também foi notado no minuto 30, com metade da agremiação cruzando a avenida. Os trechos “Mãe”, “O teu herdeiro então chorou” e “Meu Deus escute a Águia cantar” foram cantados com mais euforia.
Evolução
A ala “Os filhos dessa terra” veio localizada logo atrás da comissão de frente e sua coreografia complementava o primeiro quesito. Uma integrante da ala “Os donos da terra” saiu durante o desfile, e não se sabe o motivo. A entrada da bateria no recuo foi ótima pela visão da evolução da escola. O andar proposto no começo se manteve até o final, e mesmo com o tempo apertado, a escola não correu e fechou os portões com 65 minutos cravados, o limite máximo permitido. Presente logo atrás do segundo casal, a ala “Escravos” foi a que melhor mostrou organização, sem perder a espontaneidade de quem desfilava.
Alegorias
As alegorias do Águia de Ouro não se basearam na grandiosidade, elementos compactos e com fácil leitura. Foi visível que a chuva carregou as esculturas de água, onde todas pingavam durante o desfile, mas nada que afetasse o acabamento considerado satisfatório.
O abre-alas “A Caravela da Ganância” relembrou o período das grandes navegações, aonde no qual os portugueses se lançaram ao mar para descobrir novas terras. O carro contou com uma águia com movimentações nas asas, provocando a sensação de voo. A escultura principal teve bastante movimentação. A segunda alegoria “A nobreza portuguesa” mostrou muita riqueza nos detalhes e uma mistura do Rosa com dourado. O destaque da noite ficou por conta do carro alegórico três, “Escravidão: O sofrimento do povo negro” as expressões dos atores e os corpos machucados impactaram o público, seguido por um aclamado aplauso. Crítica à corrupção e políticos corruptos na alegoria “Mazelas políticas”. A última alegoria, que trabalhou o tema através da “Exploração Social” contou com crianças na parte de baixo e a velha-guarda acima.
Samba-enredo
A dupla de intérpretes mostrou um desempenho satisfatório, com boa divisões de cacos entre Douglinha e Tinga. O samba funcionou pelo comprometimento da comunidade, mas há trechos que dificulta a dicção clara de quem canta, como na parte “Liberdade é um quimera, viver livre quem me dera”.
Enredo
O tema trabalhado durante o desfile da Águia carregou um tom crítico à todas mazelas que o país enfrentou e enfrenta. A escola começou seu contexto logo no descobrimento, e mantém a linha do enredo afirmando que a postura em relação aos problemas e corrupções do passado não mudaram nos dias de hoje. O carnaval da agremiação não seguiu idéias partidárias, criticou o geral.
Fantasia
As fantasias da agremiação foram bem volumosas e com diferenciação visível de cor entre as alas. Destaque para a 20, “Mazelas Políticas, com composições simples, suntuosa e de interpretação imediata. Um pedaço da fantasia da ala 24, “Pobreza”, caiu em frente à terceira cabine de jurado do quesito.
Outros destaques
Os carnavalescos, Laíla e Fran Sérgio, vieram logo atrás da comissão de frente. O Laíla dava instruções constantes para integrantes da direção e o Fran Sérgio desfilou contente. Ambos voltaram e encerraram com a bateria. A Fantasia das baianas também chamaram a atenção, principalmente pela riqueza e componentes soltos. A 3º porta-bandeira sofreu com a fantasia, onde o apoio precisou retirar muitas penas para que ela bailasse com mais conforto.