InícioGrupo EspecialSambistas rasgam elogios ao espetáculo 'O Som do Morro', de Patrick Carvalho

Sambistas rasgam elogios ao espetáculo ‘O Som do Morro’, de Patrick Carvalho

Em entrevistas ao CARNAVALESCO, grandes nomes do samba deram suas opiniões sobre o espetáculo

Durante a estreia do espetáculo “O Som do Morro”, do coreógrafo Patrick Carvalho, no SESC Copacabana, diversos sambistas estiveram marcando presença e reverenciando o trabalho e a história do coreógrafo, que já escreveu seu nome na história do carnaval carioca através de comissões de frente memoráveis. O CARNAVALESCO conversou com algumas das personalidades que foram à sessão, ocorrida na última quinta-feira.

Foto: Matheus Morais/CARNAVALESCO

Lorena Raíssa, rainha de bateria da Beija-Flor, esteve presente na estreia, e falou um pouco sobre a importância de uma pessoa do carnaval conseguir ter sua vida contada nos palcos, exaltando Patrick, e como ela observa os espaços culturais do poder público abrindo as portas para o povo do samba:

“Cara, eu enxergo como uma revolução de verdade. É uma pessoa que o carnaval inteiro conhece. É impossível de não conhecer. É uma pessoa que me ensinou muitas coisas e hoje está trazendo para cá o que é o morro. Trouxe o morro para cá, para dentro, para mostrar para o povo o que é realmente o carnaval. Até porque a gente sabe que a gente não deve deixar o samba morrer. Mas ele vem mostrar a verdadeira história do carnaval, que toca a mesma gente, mostrando que começou no pé do morro. E é assim que vai permanecer, contando a sua história para todo sempre e eu sinto extremamente orgulhosa em ver uma pessoa tão incrível que eu sou extremamente fã e que tem orgulho de te chamar de mestre”.

Fotos: Matheus Morais/CARNAVALESCO

Em seguida, a jovem rainha falou o que mais tocou seu coração no show idealizado por Patrick: “O espetáculo tocou muito o meu coração, principalmente a parte do início, onde mostrou cada um dos personagens e a parte que toca o samba do Tuiuti, que eu acho que é o que mais me representou, mostrando o negro. E foi a parte onde mais me tocou, mostrou que a gente está ali e está vivendo, o quê realmente a gente tem, o quê a gente realmente mostra no carnaval, mostrando os nossos antecedentes para toda a vida ali, e mostrando que, sim, a gente vem do carnaval”.

Aldione Senna, grande passista do carnaval, também prestigiou a estreia, e ficou muito feliz com o espetáculo e com ele ter ocorrido dentro de um equipamento público, um teatro, com esses espaços se abrindo a receber o mundo do samba, e exaltando, além dessas possibilidades, os talentos revelados nos morros cariocas:

“O que que acontece, é que são anos de luta. E, assim, o gostoso disso tudo é ver que a gente conseguiu adentrar. Está tendo workshop de samba no pé, que nem o que eu dei no ano que a Mercedes Batistas fez 100 anos. Eu dentro do Municipal, no ano em que ela fez 100 anos, fui dar um workshop de samba no pé. Aonde, em toda a minha vida, que eu imaginei estar dentro do municipal para dar uma aula de samba no pé? E que é um lugar que a gente preto, não tinha acesso. Aí você chega aqui no SESC, que você vê uma apresentação como essa, belíssima, fantástica. É o morro descendo e mostrando a que veio, mostrando que o morro não é só marginalidade, tem muito talento no morro. Eu sou mangueirense, sou Vila Isabel, e eu costumo dizer que são escolas que você não precisa nem buscar o talento em outros lugares que lá eles têm. Isso aqui que a gente viu hoje, isso se chama resistência, né? Chegar ao ponto que chegou. Você viu o SESC completamente lotado, muita gente, um espetáculo belíssimo”.

Aldione ainda continuou elogiando e exaltando os membros do elenco montado pelo coreógrafo: “E eles… Nada contra a passista. Porque eu fui, ainda sambo, mas não mais como passista. Mas você vê verdadeiros bailarinos do samba, que é o que eles se tornaram. E você vê que o Patrick fez uma seleção muito boa, trouxe um grupo muito bom, mas o elenco do Patrick é grandioso. O elenco dele é grandioso. É muita história, é muito samba, é muita representatividade. Eles me representam totalmente. Eu sou muito fã desse trabalho. Eu estou muito feliz que nós pretos estamos conseguindo entrar nos lugares onde as portas para a gente eram fechadas e estamos mostrando ao que viemos”.

Ela então falou sobre pessoas que também tem possibilidades, na visão dela, de trazer algo do samba para os palcos também, em forma de espetáculo: “Tem uma menina que é nova, mas ela está se mostrando uma pessoa talentosíssima. Inclusive, ela veio na comissão de frente da Viradouro, fazendo a sacerdotisa. O nome dela é Laíza Bastos, é uma historiadora. Está fazendo doutorado e ela também tem condições de trazer um espetáculo para esse palco. Estava aí o Fábio Batista, que é um excelente coreógrafo e ele faz espetáculos, só que o Fábio Batista nessa época ele fica voltado para as quadrilhas, a Festa Junina. Mas é tudo coreografia dele, é coreógrafo da Comissão de Frente da Acadêmicos de Niterói, tem alas coreografadas dentro da Mangueira. O Fábio Batista é um garoto que eu conheci pequeno e hoje em dia está aí esse grande homem, esse grande profissional com um talento incrível, tem muita gente em condições de colocar um bom trabalho, um belíssimo trabalho em qualquer palco, não é só no palco do SESC não, é no Imperator, e em vários lugares”.

Por fim, Aldione Senna contou o que fez seus olhos brilharem ao ver “O Som do Morro” sendo encenado e dançado na sua frente: “Tudo, do início ao fim, a história, as tristezas que eles interpretaram, a sirene, o tiro, o choro, a dor, e a alegria, que, como a gente diz, que tudo acaba em samba, e é assim que termina: Tudo em samba”.

Carlinhos de Jesus falou sobre a representatividade que o espetáculo traz ao sambista, trazendo na história de Patrick a história de diversos outros sambistas, na vivência do coreógrafo:

“Representatividade. Eu acho que todo mundo que estava aqui hoje se sentiu representado. Preto, branco, azul, amarelo, gordo, magro, rico, pobre, todo mundo foi representado aqui. E outra coisa importante, a ancestralidade. E a gente se sentia ali, eu vi meu pai, eu vi meu avô, eu sou neto de Santo Amaro da Purificação, do Recôncavo Baiano, e aqui eu vi isso, sabe. Enfim, tudo que a gente pensa da alma carioca, respeitando a sua ancestralidade, trazendo suas histórias, o que nos formou, para hoje nós sermos o que somos, é o que eu vi aqui hoje. Eu acho que o Patrick traz isso, até pela própria vivência dele”.

Ele continuou comentando sobre o trabalho corporal do elenco e como tudo foi bem acertado e ensaiado por Patrick: “Foi um belíssimo trabalho e o mais importante ainda não foi só um trabalho coreográfico que eu assisti. Eu assisti um trabalho de corpo. Não é um trabalho que ensaia, vamos ensaiar um mês pra fazer um espetáculo. Não, é um trabalho que já vem sendo feito em trazer essa corporalidade, essa importância, essa essência no corpo de cada um, por mais que eles vivam, e tenham experiências nas suas comunidades, nos seus ambientes naturais, no dia a dia. Mas eles trouxeram isso de uma forma que todos nós ficamos assim, meio perplexos e, logicamente, aplaudindo com a alma, porque eu me vi ali, e como eu me vi, e todos se viram ali. Acho que é um trabalho de excelência, é um trabalho de talento e de superação. Justamente ultrapassar essas barreiras da dificuldade de a gente ter o Samba num espaço como esse, na Zona Sul, dentro do SESC, que não é qualquer lugar. Estou apaixonado, eu vou puxar a orelha do Patrick. Apaixonante”.

Em seguida, Carlinhos contou que acredita que diversos nomes poderiam ser temas de peças e outros espetáculos artísticos nos palcos, como Jamelão, Candeia e Beth Carvalho:

“Eu acho que todas as histórias são importantes para os seus protagonistas e toda a história sendo contada, é interessante para quem não protagonizou, para quem não é o representado naquilo e que acaba conhecendo. Eu vejo uma apresentação da sua história, deve ser interessante. Todos nós temos fatos marcantes, uns mais, com mais vivências ou com histórias que venham acrescentar mais que o outro. Mas eu acho que de toda grande personalidade, eu sinto falta de uma história de um Jamelão, de ser contada a história do Jamelão no palco, de um Candeia. Dos mais contemporâneos que a gente assiste, eu sentia falta disso da Alcione, até que eu vi uma Alcione no palco, de uma Beth Carvalho, mas a gente hoje, quer dizer, hoje ainda não se tem conhecimento dos grandes, dos que protagonizaram isso e que nos deixaram isso como um legado, suas histórias como um legado e que a gente dali seguiu. Eu acho que falta um pouco dessa essência”.

Ele continua falando sobre Milton Cunha também ter sua história sendo trazida a arte dos palcos de alguma forma, por considerar uma história incrível de uma pessoa com muito entendimento sobre o carnaval, enquanto cita um pouco da sua ao relembrar Cartola, a quem também acredita que pode ter sua via encenada:

“Eu acho que, eu adoraria ver uma história de um Milton Cunha, porque eu sei que não é uma história tão simples, eu sei mais ou menos o que ele passou. Então, vê-lo no palco, a história dele sendo contada, certamente vai ser uma história que vai motivar muitas outras pessoas. Eu contei um pouco, não da minha história, no palco, e quando se fala de samba é impressionante o pertencimento, como as pessoas participam, como as pessoas estão envolvidas e curiosas de saber da história das pessoas. Cartola, eu sou apaixonado por Cartola. Eu comecei no samba, sendo sempre mangueirense de coração, por causa do Cartola. Mas eu era Em Cima da Hora, então meu coração é dividido entre Em Cima da Hora que é minha raiz, que me ensinou o samba, e a Mangueira pela paixão que eu tinha pelo Cartola. Mas essas histórias é que a gente tem que ver com mais afinco, presença”.

Ao final da entrevista, Carlinhos citou o que mais gostou no espetáculo como um todo, ressaltando a técnica de cada bailarino e os momentos da história em que se viu representado:

“Técnica: Primorosíssimos, sincronizados, bem ensaiados, você vê que eles estão bem ensaiados. Uma boa preparação corporal, coreografias lindíssimas, e olha que eles só sambaram. Só sambaram, mas tiveram uma variação, uma criatividade coreográfica incrível, e uma história muito bem contada. Momentos de aperto no coração, momentos de representatividade, nos ver ali, vivendo aquilo, e momentos de alegria, como o samba é”.

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