O primeiro domingo olímpico de 2024 foi de felicidade na porção abaixo do Centro de São Paulo – e não apenas por conta das medalhas conquistadas por atletas brasileiros. Neste domingo (28 de julho), o Barroca Zona Sul apresentou o samba-enredo que levará para a avenida no ano de 2025. Composto por Thiago Meiners, Sukata, Claudinho, Cacá Camargo, Fernando Negão, Morganti, Jairo Roizen, Léo do Cavaco, André Valencio, Mineiro, Júlio Alves e Marco Moreno, a obra embalará o enredo “Os Nove Oruns de Iansã”, idealizado por Pedro Alexandre, o Magoo, carnavalesco da verde e rosa. Além da apresentação do samba-enredo, o evento teve mais atrações. Antes do anúncio, houve espaço para os shows de Douglas SP, Resenha dos Brothers e DJ Fabiano. Depois da apresentação de segmentos e da canção verde e rosa para 2025, o Vai-Vai também se apresentou. * OUÇA AQUI O SAMBA-ENREDO PARA 2025

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Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Lapidando a joia

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O Barroca, há alguns anos, confia em um grupo de compositores para criar o samba-enredo. Alguns desses compositores são da própria escola. Cacá Camargo, por exemplo, é diretor musical de agremiação. Fernando Souza, o Fernando Negão, escreveu a canção e também é o comandante da Tudo Nosso, bateria da escola. E, de acordo com ele, o fato da temática afro ser conhecida e querida pela escola foi um dos motivos pelos quais o trabalho dos compositores foi inspirador: “Sem dúvida o enredo nos favorece, porque a gente já está vindo com esse costume de cantar sempre sambas afro – com algumas exceções. Agora, voltamos para o que a gente sempre faz”, relembrou – com destaque para as exceções, já que, em 2024, a agremiação cantou o Jubileu de Ouro da instituição (“Nós nascemos e crescemos no meio de gente bamba. Por isso, que somos a Faculdade do Samba. 50 anos de Barroca Zona Sul”), e em 2023, o enredo foi indígena (“Guaicurus”).

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De acordo com ele, não foi o cargo que ele possui na instituição que deixou a vida mais fácil: “A gente criou um grupo no WhatsApp, todos os compositores foram trocando informações. Demorou um pouquinho (uns um mês e meio, dois meses), mas chegou no que a gente queria. Nesse tempo, o samba mudou umas cinco ou seis vezes. Na realidade, até depois de gravado a gente teve algumas mudanças na letra que o Magoo pediu, mas chegou onde a gente queria”, detalhou.

Flávio Morganti, o Sukata, revelou mais alguns detalhes do processo criativo do grupo: “O nosso grupo funciona da seguinte forma: nós temos uma parceria básica – que eu, o Thiago Meiners, o Jairo Roizen, o Fernando Negão e o Cacá Camargo. A gente começa a fazer tudo por internet. O negócio vai nascendo, crescendo, vai mudando, cada um vai dando uma opinião. Quando o negócio encaixa, a gente apresenta para a escola. A escola pede algumas alterações e a gente muda aqui, muda ali… vamos mudando. Quando a escola aprova, o negócio está pronto”, destacou, antes de comentar que a rede mundial de comunicação é fundamental por conta da distância entre cada um dos compositores – além de paulistas, fluminenses, sulistas e baianos estão na parceria.

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Como compositor e mestre de bateria, Fernando não nega que a imaginação já começa a borbulhar conforme os versos vão sendo escritos: “Algumas bossas e convenções já aparecem na hora, porque fica mais fácil compondo o samba. Para mim, participar do andamento do samba, da letra e da melodia é importantíssimo. Os caras já vão me mandando, eu já vou pensando em bossa, em passagem, virada. Fica mais prático”, confessou.

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Outros integrantes, porém, também são ouvidos pelos compositores, afirma Sukata: “Montamos uma peça e apresentamos, ouvimos de cada um o que está legal e o que pode ser melhorado. Vemos com o presidente, com os intérpretes, vemos o tom para eles, a parte de ritmo e andamento com o Fernando Negão… vamos assim”, revelou.

Elogios

Foi perceptível a empolgação da comunidade logo após a primeira passada do samba. Além do refrão de cabeça, a repetição de versos inteiramente afro (“Akoro mina dewa aê, akoro mina dewá/Epahey oyá! Oyá Oyá”) também agitou os presentes na quadra – que, pouco a pouco, começaram a evoluir na quadra tal qual um terreiro e um ensaio já rumo ao carnaval 2025.

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Para muitos integrantes da agremiação, não foi por acaso. A obra foi elogiada por todos os ouvidos pela reportagem. O mais impactante dos elogios foi feito por ninguém mais, ninguém menos que Ewerton Rodrigo Ramos Sampaio, o Cebolinha, presidente da instituição: “O samba, realmente, é um dos melhores dos últimos cinco anos. Eu sou fã do samba de Oxóssi (“Okê Arô”, de 2019), e a canção de 2025 eu acho que é o melhor samba que a gente vai apresentar desde então”, empolgou-se.

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Fã da eficiência, Magoo também aprovou: “Gostei muito do samba! Sem enrolação, sem falação, tem toda a sinceridade sobre o tema. Os compositores foram muito felizes, eles pegaram os pontos centrais, eles tiveram uma riqueza poética, uma melodia muito legal, muito legal mesmo. Tenho certeza que todo mundo que ouvir vai gostar. Samba empolgante, vai ajudar bastante a gente no nosso projeto”, orgulhou-se.

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Um dos três diretores de Harmonia do Barroca, Célio Souza foi mais um importante componente do Barroca a falar bem da canção: “Gostei do que ouvi! Acho que o samba que vem aí vai ter uma crescente muito grande. Ele vai ser muito bom para o nosso carnaval, para o nosso chão, que é o nosso forte aqui no Barroca Zona Sul. Eu acho que a tendência do samba é que ele cada vez mais crie corpo, cresça e se fortaleça. Vai chegar na avenida com um peso muito grande para a gente fazer um carnaval de qualidade, de primeira”, projetou o profissional, que atua em parceria com César Souza e João Neguinho – este último, também vice-presidente da agremiação.

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Mestre-sala da verd e rosa, Marcos Costa, o Marquinhos, deu mais detalhes sobre o que mais o cativou na obra: “Alguns integrantes da escola ouviram o samba essa semana pra poder, na apresentação de hoje, já estar por dentro. Eu gostei muito da segunda parte, principalmente. É uma parte que é mais do estilo que eu gosto, que é mais melodiosa – e é diferente do ano passado. Apesar do samba do ano passado ser bem melodioso (ele era inteiramente assim, todo melodioso), esse ano a primeira parte é de um jeito, a segunda cai pra uma parte mais de melodia que eu gosto. Acho que tem tudo pra dar certo”, revelou.

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Por fim, responsáveis por executar a obra, a dupla de intérpretes do Barroca, Dodô Ananias e Cris Santos, também elogiou a canção: “A gente gravou o samba na quarta-feira, e passamos o samba para a comunidade em tempo. A surpresa foi ver que, em pouco tempo, a comunidade já pegou o samba. O bom da escola, com essa comunidade vigorosa, é que, quando fazemos tudo junto, o resultado é como vimos hoje. Parece que o samba já está há mais de mês sendo escutado, executado… mas, não: foi uma gravação, um ensaio – e, agora, no ensaio geral, a comunidade cantou junto”, comentou Cris, dando mais alguns detalhes sobre os últimos dias da agremação. Dodô foi pela mesma linha: “Gostei muito do resultado final do samba. Eu estou muito feliz com a obra. Quero dar os parabéns aos compositores, acertaram mais uma vez, a caneta caiu de pé. A recepção e o acolhimento da comunidade com o samba também foi muito bom. A gente só fez um ensaio e a escola ainda nem ouviu a gravação oficial, que deve ir para a rua amanhã, e já foi assim! Estou muito feliz, muito contente. Acredito que esse samba vai impulsionar muito o nosso trabalho e o desfile da nossa escola”, comentou.

Como dois dois músicos da instituição, ambos revelaram algumas partes que consideram como favoritas na canção: “Auando a gente escutou para gravar, o samba inteiro é emocionante. Tem umas partes que tocam mais, como o segundo refrão, da estrofe para baixo. Mas o samba em si, desde o refrão de cabeça até o final da estrofe, é lindo. Ele é lindo de ponta a ponta e não tem uma parte que a gente vá dedicar mais: o samba já se dá por ele mesmo, ele é lindo por ele mesmo”, apaixonou-se Cris. Dodô preferiu outra parte, entretanto: “Eu, particularmente, acho o samba maravilhoso. Mas eu acho que ele tem um refrão muito forte, que vai tocar o Anhembi… a segunda do samba, que o Cris citou, também é muito emocionante. Quem tem devoção à Santa Bárbara, quem é filho de Iansã, de Oyá, vai se tocar, vai se arrepiar. E, quem não é, quem aprecia um bom samba-enredo, também vai se emocionar com esse samba”, destacou Dodô.

O processo como ele é

Quem também elogiou a obra foi Angélica Barbosa, uma das diretoras de carnaval do Barroca. Ela, porém, não deixou de fazer alguns apontamentos sobre o processo criativo em relação à primeira ouvida na canção original pensada pelos compositores: “quando a gente ouviu o samba pela primeira vez, eu, tecnicamente, fiquei junto com a diretoria fazendo as análises do que possivelmente poderia ser um problema na hora do julgamento. Aconteceu com a gente nesse ano, então a gente ficou fazendo, procurando essas questões pra ajustar – tanto que a gente teve que fazer alguns ajustes. A gente tem uma equipe que de compositores que faz o samba pra gente e acho que até ficou meio cansativo pra eles porque eles faziam, mandavam, a gente analisava, e voltávamos com novas melhorias. O produto final eu amei, mas até consolidar foi um processo meio demorado, de uns quarenta e cinco dias. Às vezes eles mudavam alguma coisa pra encaixar alguma letra, aí a gente pedia pra eles gravarem e cantarem, aí eles cantavam e mandavam, por vezes pedíamos para voltar ao que estava… teve esse tempo, mas o resltado final foi fantástico”, abordou.

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Quem também destacou as idas e vindas no processo de criação foi Magoo: “A nossa relação com os compositores foi uma conversa bem aberta, bem franca. A gente conversou e a gente estava diariamente em contato. Eles faziam alguma parte e perguntavam o que achávamos. Foi assim com o próprio presidente! A gente criou um grupo no WhatsApp e a gente ia dando pitaco, ia mexendo. Se pegar o primeiro que foi escrito até o último, teve uma diferença muito grande. Teve a participação direta do pessoal da diretoria, tudo certinho. Foi uma coisa prazerosa de trabalhar, foi um trabalho em conjunto. E, é claro, a genialidade e a competência dos compositores foi algo fantástico. Foi muito legal esse processo”, detalhou.

Sobre o formato

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Muito se fala sobre o quanto a encomenda de samba-enredo em detrimento às elimiantórias é positiva ou negativa. Cebolinha defendeu o método de construção de samba com uma única parceria: “Esse formato tem agradado. A gente está trabalhando nessa linha há alguns anos, e por isso eu acho que é uma linha que deu certo. Acho que o Barroca, nos últimos cinco, seis, sete anos, vem trazendo grandes sambas. Acho que está dando certo, a linha a se seguir é essa e a gente está bastante contente com isso”, vaticinou.

Eventos e passos

O cinquentenário do Barroca Zona Sul será comemorado no dia 07 de agosto, e a agremiação fará não uma, mas duas festas para comemorar – uma no dia 18 de agosto, com participação da Mocidade Alegre, Resenha dos Brothers e Um Toque A Mais; e outra no dia 15 de setembro, com participação do Doce Encontro e do Fundo de Quintal. Mas a agremiação não irá parar por aí. Cebolinha pontuou que, um dia após o evento de apresentação do samba-enredo, a verde e rosa anunciará uma festa com uma grande escola de samba convidada.

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Ao ser perguntada sobre próximos eventos, Angélica se ateve aos quesitos: “Pensando no desfile, a gente vai fazer uma reunião com os chefes de ala para poder mostrar os pilotos prontos – porque, até o momento, a gente só mostrou em desenho. Está muito legal, surpreendeu, o Magoo é magnífico, surpreendeu bastante. E, agora, a gente está focado em ensaio. O próximo passo é ensaio, ensaio, ensaio e ensaio”, brincou.

Célio foi na mesma linha de Angélica: “A primeira coisa que a gente faz é reunir todos os chefes de ala, fazer uma reunião, pegar a impressão também deles, do que eles acharam do samba. É muito importante a comunidade estar envolvida e estar interagindo com a gente o tempo todo, porque são eles que vão fazer a diferença na pista. Não adianta o Célio gostar ou o João gostar: quem tem que gostar é a nossa comunidade. Pelo o que eu vi ontem, no primeiro ensaio que a gente teve com o samba, a impressão foi muito boa. Acho que eles gostaram, vi muitos elogios sobre o samba, acho que tem tudo para dar certo. Depois fazemos ensaio com alas, e aí a gente vai fazendo o samba crescer com cada uma delas. Cada componente vai vir, tirar dúvidas de letra, ver se não entendeu ou aonde precisa ir. Tem algumas partes do samba que você vai aprimorando para a pessoa não cantar errada no dia do desfile. Mas eu acho que a comunidade aqui é sensacional, vai dar tudo certo e é um samba que, como eu falei, vai chegar na avenida muito forte”, prometeu.

Acompanhando de longe

Embora estivesse presente, Marquinhos dançou menos que outros casais do Barroca por um motivo especial: Lenita Magrini, primeira porta-bandeira da escola, está em um compromisso profissional na Coreia do Sul e retorna no próximo mês para o Brasil. Ao falar sobre como está ensaiando para o desfile, Marquinhos citou a parceira de dança: “A mente de casal funciona bem assim: a gente fica ansioso para ouvir o samba, já para começar a imaginar que parte que o corpo pede para dançar. Como tivemos uma apresentação aqui, fechada para a escola, os intérpretes estavam cantando, eu fiquei ouvindo e já falei quais partes do samba me dá vontade de balançar, por exemplo. Aacho que eu e a Lenita vamos muito por isso: é o feeling do que o nosso corpo sente, para onde o samba pede para o nosso corpo ir. Tem coisas bem interessantes que dá para a gente fazer”, comentou.

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Perguntado sobre como está a rotina de treinamentos á distância, Marquinhos tratou de tranquilizar os torcedores do Barroca: “A gente ainda está bem tranquilo. Eu também trabalho com dança, a gente estava bem focado: ela lá no trabalho dela na Coreia e eu aqui, com os meus trabalhos na escola de dança – tinha um espetáculo que eu estava coreografando, que era itinerante. A gente estava bem tomando conta da nossa vida profissional e ela falando que estava voltando, que estava a milhão, que quando ela voltasse eu estava ferrado. A gente está guardando esse gás porque, quando ela voltar, o bicho pega. É mais ou menos o que acontecia nos anos anteriores, quando eu estava nos programas de TV que eu fazia: você trabalha com dança quase o dia inteiro, eu chegava para ensaiar com as porta-bandeiras e eu estava voando. Nesse ano, eu quem vou sofrer: ela está no rendimento total e eu quem vou ter que acompanhar”, finalizou.